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De Passos ao Porto

    O "Porto Maravilha" é um dos maiores projetos já criados para revitalização de áreas urbanas na cidade do Rio de Janeiro. A previsão é que toda a região da zona portuária seja reestruturada e que novos ambientes, dentro e fora do porto, sejam construídos. Mas ainda há muitos quesitos presentes no projeto que não agradaram pessoas temerosas por conta das frequentes obras espalhadas pela cidade. No entanto, o Rio ganhará uma nova cara e servirá como sede para os eventos internacionais que acontecerão no Brasil.
    Porém, antes deste projeto o Rio ‘sofreu’ com outras grandes modificações na geografia da capital. O programa de Reformulação Urbana da Capital, posto em prática sob o comando do então prefeito Pereira Passos e do Presidente Rodrigues Alves. Esse plano mexeu não só com a estrutura do centro da cidade como também no porto do Rio, nas vias que levavam a população da Zona Portuária até a baixada e também com a saúde pública.
     O Rio de Janeiro vivia um de seus piores momentos. A cidade estava epidêmica, animais transmissores de doenças circulavam por toda parte e ela já era conhecida por todo o mundo como “Cidade da Morte”. Embarcações não aportavam mais por conta do receio dos tripulantes de se infectarem por alguma doença (varíola, febre amarela ou cólera), era uma das capitais mais mal quistas por todo o Brasil e a população local vivia em um imenso pântano, cercada de pobreza, imundice e problemas, praticamente, insolúveis.
     A abolição da escravatura e a recorrente imigração europeia fizeram com que o Rio de Janeiro entrasse em um processo de desenvolvimento populacional rápido e desordenado, contudo, esse crescimento não resolveu as questões sociais pendentes. Até por que, no início do século XX, o Rio ainda era uma cidade de aspecto colonial e com construções ou muito majestosas ou completamente insalubres, os chamados cortiços.
     A iniciativa de mudar radicalmente a cara da cidade frente ao mundo inteiro foi de Rodrigues Alves, presidente do Brasil de 1902 a 1906. Depois de perder seu filho para a febre amarela, decidiu movimentar profissionais da área de engenharia urbana para urbanizar, sanear e embelezar o centro do Rio de Janeiro. A ideia era transformá-la em um “centro urbanizado” e deixá-la com aspectos de cidade cosmopolita. A forte influência da cultura francesa na vida de Pereira Passos fez com que toda a revitalização convertesse a cidade em uma cópia parisiense. Isso será ratificado mais a frente por conta de várias construções que tiveram, praticamente, a mesma planta de outras edificações de Paris.
     O Teatro Municipal do Rio de Janeiro, um dos marcos do governo de Pereira Passos, é uma cópia do Comédie-Française, um teatro estatal francês. A própria Cinelândia (Praça Marechal Floriano), onde se encontra o Teatro Municipal, é (ou era quando foi remodelada) uma imitação perfeita das praças de passeio público dos centros franceses. Sem contar as próprias ruas do centro da cidade, que foram alargadas e alongadas, ganhando canteiros, iluminação e edifícios (residenciais e comerciais), que substituíram as pequenas vielas (que suportavam apenas carroças) e cortiços, e deram vida     a novos edifícios.
    “As picaretas de Passos” foi outra tacha colocada no período em que os trabalhadores do governo estiveram destruindo as ruas. E das picaretas saíram lojas de comércio de luxo, cafés, restaurantes, exposições, recreio, casas de leitura etc. Além do apoio governamental e da população nobre da cidade, Pereira Passos contou com o suporte incondicional das grandes construtoras e companhias que queriam instalar hotéis de luxo, linhas de bonde e as novas estradas de ferro.
     Nesse mesmo período, Oswaldo Cruz se transforma em uma das personalidades mais importantes na história do Rio. Como médico sanitarista e bacteriologista, administra a implantação da Lei da Vacina Obrigatória para a população carioca. A tão comentada Revolta da Vacina nada mais foi do que uma resposta desorganizada do povo, que se sentia lesado por, além de ter sido expulso de maneira vândala, ser obrigado à vacinação.
    Ao final do mandato de Passos, a Zona Portuária da cidade do Rio de Janeiro estava completamente modificada. Ruas, casas, centros comerciais, porto, transporte, e tudo o mais que se possa imaginar. Até mesmo quem não conhecia a capital francesa conseguia vê-la projetada no centro do Rio. No entanto, o que nós hoje chamamos de favela começou com o Morro da Providência, o primeiro morro que abrigou a população pobre desalojada com o início das obras.
    Hoje, a população carioca visualiza a projeção de outra grande obra na Zona Portuária carioca. O projeto Porto Maravilha renovará toda a área urbana do centro, restaurará espaços e construirá novos ambientes de lazer e cultura.
   Entre as principais obras estão a construção de 4 km de túneis,                    a reurbanização de 70 km de vias e 650.000 m² de calçadas, a reconstrução de 700 km de redes de infraestrutura urbana (água, esgoto, drenagem), a implantação de 17 km de ciclovias e o plantio de 15.000 árvores.
     Uma das obras mais polêmicas é a destruição de cerca de 4 km da Perimetral, ao qual dão o nome de elevado. A população tem reclamado sobre os problemas no trânsito e de deslocamentos em áreas próximas à Perimetral. Entretanto, o Governo alertou sobre o desvio de pistas e a facilitação do acesso rodoviário da população que precisa transitar pela Zona Portuária.
     Mesmo assim, ainda restam algumas dúvidas sobre o projeto, sobre     as reformas passadas e algumas comparações que, ainda na teoria, são tão devastadoras quanto na prática. Pessoas terão de ser removidas de suas casas e antigos alojamentos serão destruídos. Moradores ilegais serão recolhidos e centros antigos já estão sendo reformados.
    E a população? Para onde as pessoas que poderão perder suas casas irão? Outro Morro da Providência ou vão todos para as ruas?
Se Paes fizer o mesmo que Passos, toda a área do centro do Rio ganhará outra cara, que só é bonito pra quem vê, mas não pra quem vive.



Jonathan Caroba

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