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Gentrificação

          No início do século XX, o então presidente da República, Francisco de Paula Rodrigues Alves, deu inicio a uma ação de reformulação urbana com o pretexto de melhorar a imagem, a sanidade e a economia da capital federal da época e facilitar a imigração de estrangeiros ao Brasil. Entretanto, tamanha intervenção urbana não poderia apenas se limitar ao Porto ou à região portuária do Rio, ou seja, ela precisava alcançar um âmbito de nível estatal. Com esse intuito, Rodrigues Alves nomeia o engenheiro Francisco Pereira Passos como prefeito e confere-lhe total autonomia para projetar uma reforma urbana no estado do Rio de Janeiro.
          Quase 110 anos depois, o Governo do Estado em parceria com diversas empresas públicas e privadas, como por exemplo, a Norberto Odebrecht, a OAS e a Carioca Engenharia, estão realizando, com o mesmo intuito, o que poderia chamar-se “Segunda Reforma Urbanística do Estado do Rio de Janeiro”, ou como o governo e a população atualmente prefere chamar, projeto Porto Maravilha. 
          Talvez com a chegada de eventos mundiais como as Olimpíadas de 2016 e a Copa do Mundo de 2014, tenha gerado uma espécie de fascínio coletivo na população brasileira e desviado o verdadeiro foco da preocupação de todos. Já está passando da hora de trazer para debate todo um olhar mais preocupado com o lado social de todas essas intervenções que estão acontecendo no Rio.
           Em primeiro lugar, o projeto Porto Maravilha praticamente não conta com o envolvimento e a participação da população que mora na zona portuária, e, por isso, há certo “déficit” na transparência das decisões tomadas pelo Estado. Além disso, o projeto não tem como objetivo misturar classes sociais e diversificar a população da região, e a iniciativa não prevê nenhuma ação que valorize a memória, os patrimônios material e imaterial da região ou ao menos garantir a permanência da população que atualmente reside no local.
          Diversas cidades importantes no mundo já realizaram projetos para as revitalizações em suas respectivas zonas portuárias. Nova Iorque, Barcelona e Buenos Aires são exemplos disso. Cidades importantes para a economia nacional que reestruturam seus portos para atender à demanda de turistas, e, com isso, movimentar a economia e o próprio setor turístico do país.
          O maior problema que todas essas revitalizações sofreram e que atualmente a população menos favorecida da Zona Portuária do Rio de Janeiro está “sentindo na pele”, é o termo chamado “gentrificação”, ou seja, o Governo promove uma melhoria em um determinado espaço urbano, e consequentemente, há certa valorização imobiliária no local em questão.  Com isso, há uma “retirada forçada” de moradores tradicionais – que geralmente são de classe média ou baixa – dos espaços urbanos.
          Além disso, é opinião unanime entre os moradores da região afetada que o projeto de revitalização da zona portuária não irá beneficiá-los. Muito pelo contrário, cada vez mais as demolições, novas construções e todas as obras iniciais do projeto causam transtorno não apenas para eles, como também para pedestres e trabalhadores que precisam passar pela área todos os dias.
          A reclamação mais rotineira é por não terem participado da iniciativa do Governo e tampouco serem informados sobre ela. A partir daí, a intervenção municipal retoma a antiga política de remoção de moradia, aplicada nas favelas cariocas no inicio do século passado, como foi dito anteriormente.
          De acordo com a Cdurp (Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro), o projeto Porto Maravilha estabelecerá quatro áreas “residenciais”, sendo apenas uma “de interesse social”, a do Morro da Providência. As outras áreas são de casas e prédios passíveis de restauração. Esses imóveis, hoje ocupados por diversas famílias de baixa renda, terminarão atendendo às classes mais nobres. Nas localidades mais próximas do waterfront estão as áreas comerciais, de serviço, culturais, de turismo e entretenimento, um convite à apropriação da região pelo capital privado.
Em contrapartida a todas as intervenções do Estado, há movimentos sociais que lutam apenas por uma moradia digna na região. Nesses últimos dez anos, grupos de ocupações “ilegais” têm resolvido por conta própria uma pequena parte do problema habitacional ao ocuparem prédios públicos abandonados.
          Enfim, este artigo busca analisar uma das maiores pretensões do Governo do Estado do Rio de Janeiro: o projeto Porto Maravilha. Além de apresentar o ponto de vista dos moradores e dos movimentos cariocas da região que lutam apenas por suas moradias, suas famílias e por toda uma herança histórica deixada pelos seus antepassados, que cada vez mais está prestes a ser destruída.



Paulo Vitor D. Linhares

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