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Macumba pra turista

          Não sei se é adequado começar assim, mas convenhamos, esse projeto Porto Maravilha muitas vezes parece o que Oswald de Andrade chamou de “macumba pra turista ver”. O Rio de Janeiro terá seu centro praticamente todo alterado em função do quê? Copa, Olimpíadas, turistas, dinheiro, poder. Bom, isso tudo pelo ponto de vista do governo e da elite, óbvio. Certamente, o turismo no Rio de Janeiro é um dos meios que mais movimentam o dinheiro carioca. Atraímos todo tipo de povo e cultura. Quem nunca viu aqueles transatlânticos gigantescos parados no porto que atire a primeira pedra.
          Cidade do samba, da alegria, das favelas, da beleza, das misturas... Estereótipos à parte, estamos evoluindo para um patamar acima do subdesenvolvimento. Fazemos parte do BRICS, portanto, somos um país em que a economia está crescendo, mas há divergências na sociedade. Pois é, tudo envolve um ponto essencial: dinheiro.

          Dinheiro hoje em dia está bem caro. Não sei se é porque o Brasil está progredindo e, por isso, a moeda brasileira está se valorizando, mas apesar de alguns acompanharem isso, existe uma fração da população que não está conseguindo seguir este desenvolvimento. Como falei anteriormente, somos uma sociedade divergente, prevalecendo, ainda, uma mais pobre e sem privilégios. É como diz o trecho daquela música "E o motivo todo mundo já conhece: é que o de cima sobe e o de baixo desce".
          Para sermos vistos com bons olhos pelo mundo atual, segundo nosso sistema econômico, precisamos de meios para que o capital possa ser aplicado e, no final, gerar lucro. A energia elétrica e o pré-sal são duas maneiras possíveis que o Brasil tem conseguido para, futuramente, obter lucro e alavancar um maior desenvolvimento. Obras de grande suporte, como a que ocorrerá no porto do Rio de Janeiro, podem também ser consideradas como uma influência do sistema capitalista.
          Região portuária. Essa zona é fundamental para o Brasil desde o período colonial. Através dela, escravos, imigrantes, alimentos e a própria corte chegaram ao país. Durante esse tempo, o porto era o principal meio de entrada e saída para qualquer finalidade. Ali, encontrava-se a maioria da população trabalhadora, lembrando que, à época, era predominante a escravidão. Com novas tecnologias aparecendo e por simples negligência, esse meio foi entrando em decadência.
          Hoje, a região está repleta de pichações. Uma das poucas vezes que estive no local foi durante o carnaval. Por mais que houvesse a beleza das alegorias das escolas de samba, o cenário estava totalmente “às moscas”. É notória a diferença entre a modernidade dos transatlânticos e a precariedade do espaço do porto. Por que uma região tão bonita antigamente ficou neste estado?
          Para não entrar em esquecimento ou piorar a situação da zona portuária, o Governo resolveu revitalizar essa região. Ótimo projeto, já que, realmente, a situação é crítica. Através das projeções no site oficial do mesmo, pode-se notar um enorme avanço e como haverá uma mudança. Edifícios enormes e grandes centros comerciais serão criados. Lindo, esplêndido. Teremos os olhos de todos voltados para o nosso Rio de Janeiro, principalmente com os eventos que se realizarão.
          A história da região portuária vai ser alterada. Onde antes havia indícios de um lugar com lembranças da escravidão, hoje seria totalmente elitizada. Só será visto o que a maioria gostaria: beleza arquitetônica. A ideia de revitalização realmente é boa, mas precisa-se deixar pelo menos alguma lembrança de nosso passado, já que só se constrói um futuro através do mesmo. Não tem como criar um passado imaginário. Sim, fomos uma cidade onde havia muita pobreza, mas parece que o governo quer fazer com que isso seja esquecido.
          Em qualquer lugar, a construção da identidade nacional só é estabelecida através das referências históricas vividas em determinada população. Por isso, o Rio de Janeiro possui uma contingência significante de pessoas descendentes da nação africana. Pessoas estas que chegaram através do Porto, e, perto dali, estabeleceram-se na chamada “Pequena África”. Hoje, a população que vive nesse local enfrenta sérios riscos de ser despejada em prol das obras que serão realizadas.
          Como ficarão as pessoas residentes da região? Sem moradia, alimento, saneamento básico... Sem seus direitos. Direitos esses que o Estado deveria oferecer. Por mais que haja bolsa família e ajudas financeiras, isto é negação de um bem à vida. Além de existir uma grande afeição dos moradores pela localização. Estamos relembrando o tempo da escravidão...
É irônico como um projeto não será em favorecimento de alguns cariocas. Um projeto que tinha tudo para dar certo peca neste quesito. Quesito, aliás, mais importante, já que o próprio governo está expulsando a população que reside no local há tanto tempo. Assim, voltamos para o ponto inicial: dinheiro, dinheiro e dinheiro.
          Não tem como não falar desse projeto sem ter o dinheiro relacionado. O mundo atual gira em torno disso. A sociedade está mais preocupada com a economia do que consigo mesma. Só quando o governo se preocupar com os brasileiros e procurar algo que os ajude é que o país possa, talvez, pensar em se tornar totalmente desenvolvido. Se é que é possível.



Amanda Cosendey

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